Escrito por Matheus Ferraz
Me olhei no espelho e perguntei a mim mesma: era mesmo isso que eu queria? Não poderia confiar apenas na palavra dele?Não. Definitivamente não. Precisava saber.Olhei para meu rosto uma última vez antes de começar. Todos sempre diziam que eu era muito bonita. Meu cabelo chamava a atenção de todos. Meus olhos eram de um violeta muito raro. Meu rosto era o de uma boneca de porcelana.Chega! Se eu continuar pensando assim, nunca vou ter a coragem.Peguei a máquina de aparar cabelo e passei sobre minha cabeça. Minhas madeixas ruivas começaram a despencar no ladrilho azul do chão do banheiro. A máquina avançava podando minha cabeleira. Continuei até ficar careca.Depois peguei a navalha e cortei minha orelha esquerda. Parei no meio do caminho: a dor era insuportável. Estava chorando. Mas não podia parar. Tinha que ter certeza.Avancei com a navalha serrando cegamente a cartilagem. Gritei. Gritei de novo. Continuei. Finalmente, a orelha saiu. Eu estava berrando àquele momento. Tomei bastante analgésicos. A dor foi se amortecendo, mas não chegou a parar.Cortei pedaços do meu rosto com a navalha. A carne se abria e ardia muito. Quando a dor se tornou insuportável, tomei um comprimido de morfina que havia roubado do hospital. Continuei tirando nacos de carne da minha face. Estanquei o sangramento e fiz alguns pontos.Olhei para meus olhos. Era tudo o que havia me restado de belo. Com a gilete vazei um deles. Pude senti-lo escorrendo, esvaziando minha órbita. Tive de deixar um para enxergar.Pronto. Havia terminado. Havia me tornado um monstro. Agora confirmaria se o que Michael me disse era verdade.Ele me disse que não gostava de mim por atração física. Agora eu teria minha prova.

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