[Conto] Antropofagia

Escrito por Marius Arthorius
As lembranças daquele sorriso iluminado pelo sol do meio dia. Imaculadas imagens fixas em sua memória. A cena repetia-se em sua mente enquanto deslocava-se por entre o pasto. Rumando de volta para a casa da fazenda. Os campos ora verdejantes, ora dourados se estendiam até o horizonte. Entremeados por pequenos capões de mata, em que as araucárias e o canto dos grimpeiros marcavam presença.Em meio a tal paisagem paradisíaca. Cortada pelos gélidos ventos do inverno que se aproximava. Havia sido ali. O local escolhido para realizar seu ato tão sonhado. E aquele sorriso permanecia em sua memória. O último sorriso que ele teve oportunidade de dar em sua vida. Ela estava satisfeita. Saciada, pois um de seus mais profundos desejos haviam sido realizados. Em meio as lindas paisagens dos campos sulinos. Longe de tudo e de todos.Tudo que restou do homem que um dia a amou, era aquele sorriso. Um grande e estampado sorriso, nada além disso em sua face.
* * *
Algumas horas atrás...Passava pouco do meio-dia quando o casal resolveu sair para uma caminhada em meio aos campos após o almoço. Nenhuma nuvem no céu, apenas o sol forte e radiante. Emanando todo seu calor e radiação que faz a vida seguir seus infindáveis ciclos através das eras. Tempo além do que qualquer pessoa consegue imaginar de forma adequada. Devido a insignificância do curto período de tempo de vida que todos possuímos.Andaram por mais de uma hora, de mãos dadas, inspirando o ar puro dos campos. Dançando entre o doce aroma das flores. Porém, sem nenhum motivo aparente, ela desmaiou. Caída no chão, inconsciente. Ele em desespero tentou ampará-la. Tudo em vão. Nada surtia resultados. A partir de tal momento, tudo na mente dela, passou ser acontecimentos incertos. Lembranças vagas. Pedaços desconexos de tempos passados. Oriundos da doce felicidade por ela experimentada.Não demorou muito e ela acordou ouvindo aquele zumbido ensurdecedor, sua cabeça latejando. Parecendo que explodiria a qualquer momento. O mundo não mais lhe agradava. As folhas do pasto pareciam furar-lhe a pele como agulhas e facas. O sol parecia queimar sua pele impiedosamente. E o rosto dele, antes imaculado, olhando para ela. Agora parecia um cadáver em sua frente. Um pedaço andante de carne que deveria ser devorado.Em seu rosto ele ostentava preocupação, buscando palavras para tentar consolá-la. Para ela, o som das palavras pareciam sinos ensurdecedores badalando em seus ouvidos. Arrebentando a estrutura de seus tímpanos. Ela berrou, e ele que estava abaixado ao lado do corpo dela. Acabou por cair sentado com o susto. Ela continuou a berrar, afinal naquele local ninguém ouviria seus gritos. Deitada no chão, começou a arranhar seu próprio rosto. Cravando as unhas em sua própria face. Rasgando, dilacerando, rompendo as estruturas de sua pele. Demonstrando que por dentro somos todos iguais. Expondo o vermelho infernal que compõe nossos corpos. O sangue começou a escorrer. Tornando rubra as partes intactas de pele facial. Ele tentava segurá-la, numa tentativa fútil de que ela parasse de ferir a si mesma. Tentando libertar-se do homem que tanto a amava, ela chutou suas genitálias e ele rolou para o lado. Lacrimejando, tamanha era a dor que emanava de entre suas pernas. Enquanto ele lamentava-se e xingava, a mulher levantou-se, com sangue gotejando de sua face.O rosto profundamente marcado por arranhões. Olhava fixamente para o homem em sua frente. O homem que algum dia ela poderia ter amado. Entretanto, no momento, ela havia perdido o controle sobre si mesma. Libertando o animal descontrolado que existe dentro de todos nós. Ansiando por sangue e carne fresca. Um predador que espreita todas as nossas atividades. Oculto sob o manto da lucidez e da consciência. Assim o denominamos de instinto. Quando em liberdade chamam-no de loucura. E quem teria sã consciência de afirmar certamente o quê é a loucura. Se não nossos mais profundos desejos, enraizados na escuridão de nossas mentes.Ela veio à fazenda visando dar continuidade ao seu tratamento psiquiátrico. E a única coisa que realmente fez foi abandonar o uso de seus remédios. Enganando o homem que a amava e que tanto preocupava-se com ela. E agora estava em meio a um surto psicótico, uma alucinação em que a mente domina o “eu”. Perdendo-se o controle sobre si mesmo. Libertando nossos demônios. Ele recuperou-se da dor e levantou-se. Indagando-a se tudo estava bem. Para ele nada estava bem. Para ela, no entanto, tudo corria de forma maravilhosa. Um doce sonho de uma noite de verão. A mulher inclinou sua cabeça para a esquerda, lambendo seu próprio sangue. Sentindo o sabor de inicio doce e levemente salgado no final. Néctar da vida, regando nossos corpos. Encarou-o com um olhar vago, e após, inclinou a cabeça para trás. Olhando para o sol. O astro maior ao qual devemos nossas existências. A divindade materializada que todos os povos louvaram ao longo da história da humanidade, denominando-o de diferentes formas e criando diferentes seres para sua personificação imaginária.Olhou para o homem novamente, que encarava-a assustado. Ela sorriu, demonstrando os dentes sujos de sangue, e ele retribuiu. No que ela rapidamente pulou sobre ele. Derrubando-o no chão.
- Seu maldito centurião! – gritou a mulher – Não irás invadir minhas terras carnais com seu corpo impuro.
Caídos no chão, ele tentava se livrar dela. E esta, cravou seus dedos nos olhos dele. Perfurando e esmagando os mesmos. Ele viu sua visão distorcer-se até sumir por completo. Quando uma dor irradiou de seus olhos. Ele urrou de dor, e acertou a mulher com um soco.
- Não me amas mais? – indagou a mulher – Esqueceu-se de sua promessa? De me amar na doença e na felicidade até que a morte nos separe?
- Sua louca! Veja o que você fez comigo! – ele estava ajoelhado, gemendo de dor. Com as mãos amparando os buracos em que encontravam-se duas massas inertes, que poucos segundos antes foram seus olhos.Ele não percebeu a aproximação dela. Indo em sua direção com uma grande pedra nas mãos.
- Amor meu, em sua face reluz nosso amor. Sem tu não podereis viver. E dos prazeres ofertados por sua carne, vísceras e ossos, eu quero provar. – falou a mulher calmamente.Ele virou o rosto na direção da voz. Ela então ergueu a pedra e acertou-o na cabeça. Fazendo-o cair lateralmente sobre as macias gramíneas.
- E agora, eu vos ofereço, fruto da minha carne e meu sangue. Comam e bebam, pois aqui está o messias. – falou a mulher enquanto gargalhava.
* * *
Ele acordou de sua inconsciência, pela dor de sentir seus braços e pernas serem quebrados. Gritou, chorou, esperneou. Nada adiantou. Não conseguia sair do lugar. Apenas escutava as risadas da mulher. Se ele ainda possuísse olhos, a cena que veria agora faria-o vomitar. Ela havia tirado as roupas do homem. E, ajoelhada ao seu lado. Curvou-se sobre o abdômen dele. Arrancando com a boca três nacos de carne das redondezas do umbigo do homem. Três rápidas e vorazes mordidas. Sangue rubro rapidamente flui pelos locais das mordidas. Enquanto ele tremia e gritava. Sem conseguir sair do lugar.
- Pois então, comeremos e beberemos de tua carne. – falou a mulher. Ele gritava suplicante, e até suas cordas vocais começaram a falhar. A mulher com o rosto todo arranhado. Agora pintava sua própria face com o sangue que escorria do homem. Ela esfregava o rosto sobre as mordidas no abdômen dele. Por vezes, lambendo-as e beijado-as. Aprofundando sua língua na carne do homem que tanto a amava. Enquanto ele tossia afogando-se com sua própria saliva em desespero. Então assim era pressentir a morte. Saber que após ela nada existiria, apenas apaziguava o sofrimento. O completo vazio, sem nada sentir. A escuridão completa, e degradação do “eu”.Ela deitou-se sobre ele.
- Calma querido. Tudo vai terminar bem.

Beijou o homem. Primeiro em sua boca. Depois fez sua língua passear pelos buracos em que antes haviam os olhos. Ele não conseguia mais gritar, apenas gemia. Tentando proclamar palavras que não faziam nenhum sentido. Só lhe restava esperar pela dama de trajes negros que livraria ele de toda a dor e sofrimento que no momento passava. A dama que todos temem, mas que não conseguimos viver sem sua presença. Pois no âmago de nossos sentimentos, todos sabemos, que ainda nos deitaremos com ela. O corpo todo do homem estremeceu, sua hora chegou e passou. A vida deixou seu corpo. Sua consciência se desfez. E ele descobriu a verdade que todos temem. Não há nada para se ver após a morte.
* * *
A mulher retornava para a casa da fazenda. Arrastando consigo um cadáver semidevorado. Com as vísceras arrastando pelo chão. Ela apenas se lembrava. De seu sorriso. Um grande e belo sorriso que ela implantou no rosto do homem que a amava. Usando uma pedra afiava, rasgou-lhe a face de orelha a orelha. Um grande sorriso feliz. Reverberando em sua memória. Afinal, todos anseiam por alcançarem a felicidade. Todos querem felicidade a qualquer custo. E assim ela fez. Buscou sua felicidade. Encontrou-a no corpo daquele homem. E conseguiu deixá-lo com um sorriso nos lábios. Apenas mais um belo e amável casal. Caminhando por entre os campos, após uma adorável refeição.

[Conto] Aborto Maldito

Errar é humano, mas certos erros não são. Eu ignorei a voz da razão de uma maneira cretina e insana, e por mais que possa me arrepender, eu nunca poderei mudar os fatos ocorridos. Fatos estes que me levam a narrar esta história maldita, em que se transformou minha vida. Meu nome é Marcelle, hoje tenho 65 anos, e moro num asilo, pois ninguém da minha família jamais me perdoaram pelos erros que cometi. Na época em que determinados fatos aconteceram, eu era uma adolescente de 17 anos, e comecei a namorar com um rapaz de 20 anos. Minha mãe sempre me dava um sermão quando chegava tarde em casa, dizia para mim não ficar até tarde com Nando, meu namorado. Ela ficava dizendo um monte de coisas, do tipo; “não deixe este rapaz se aproveitar de você”, “homens são todos iguais, eles só querem se divertir com garotas bonitas como você”, “e se você engravidar seu pai a expulsará de casa” ah, como odiava ouvir minha mãe falar essas coisas. a gente brigava direto e certa vez disse a ela que ia dormir na casa de uma colega, mas fui para a casa de Nando. Naquela noite eu não resisti e nós transamos. Mas não usamos preservativo, na hora aquilo nem parecia importante. Mas depois minha barriga começou a crescer, no começo meus pais só pensavam que eu estava engordando um pouco. Mas eu sentia que não era isso. Fui numa clínica com uma amiga e descobri que estava grávida! Aquilo me deixou apavorada, como eu poderia explicar isso para meus pais? Na certa meu pai cumpriria sua promessa de me expulsar de casa. Apavorada, fui contar a notícia para Nando, que ficou chocado e passou a me evitar. Dias depois desapareceu. Seus pais diziam que ele viajou para uma cidade do interior para morar com o avô doente. Não sabia o que fazer... Aí uma garota que conhecia, Laura, me disse para fazer um aborto. Ela tinha razão, era minha única chance de livrar-me daquela criança. Embora ela não tivesse culpa, pois a principal culpada era eu, ela iria pagar com a vida. Assim o fiz, tomei alguns chás fortes e certo dia, creio que já estava com sete meses, corri para o banheiro de minha casa, sentindo dores horríveis em minha barriga, e o feto saiu de dentro de mim, caindo dentro do vazo sanitário. Estava livre daquela criança de uma vez por todas. Eu a retirei do vazo sanitário toda ensangüentada, coloquei dentro de algumas sacolas e joguei no lixo. Mas a partir daí, nos meus sonhos, eu sempre via uma criança com o corpo ensangüentado chorando. Mas tudo bem, pois só eram sonhos. O tempo foi passando, e aos 25 anos eu me casei com Bob, um homem incrível, que me amava, assim como eu o amava. O meu aborto era um segredo, que escondi de todo mundo. Casada e com uma vida bem sucedida, eu engravidei novamente. Tive um filho lindo, que foi batizado de Francisco. E quanto aos sonhos com aquela criança, continuavam. Mas a criança, nos meus sonhos, crescia... era uma garota de longos cabelos pretos e lisos. Ela sempre estava em meus sonhos, completamente nua, tentando me fazer enlouquecer em pesadelos escabrosos. Num deles, ela matava Bob e Francisco com um bisturi, rasgando-os ao meio. Aquilo já estava perturbador demais para mim. Aquela garota era sem sombra de dúvidas, o fantasma daquela criança que eu abortara. E de alguma forma ela queria se vingar de mim. Certa noite Francisco acordou horrorizado e veio até mim, dizendo que uma garota de longos cabelos brancos e sem roupas queria matá-lo. Naquele momento fiquei horrorizada, pois eu não era a única a vê-la em sonhos. Aquilo estava ficando muito estranho. Certo dia, eu voltava do supermercado com várias sacolas de compras nas mãos, entrei em casa e fui para a cozinha, quando vi uma sombra ao meu lado. Olhei para trás e vi aquela garota, tal como ela aparecia em meus sonhos, com os longos cabelos pretos, soltos e completamente nua. Estava ali, parada a minha frente, me fitando diabolicamente. Então ela perguntou:
- Mamãe! Por que há muito tempo atrás você me jogou num saco de lixo e me deixou apodrecer num lugar horrível? E mamãe, por que você sempre está abraçando e dando presente pro Francisco? Por acaso você gosta mais dele que de mim? Sua voz estridente ecoava em meus ouvidos dolorosamente.
– Eu vou matar Francisco. Aí você vai gostar só de mim, não é? – ameaçou-me ela.
Então começou a correr pela casa, até desaparecer da minha vista. Fiquei imóvel, boquiaberta com aquela visão assombrada. Gritei apavorada e comecei a procurá-la pela casa. Mas nada encontrei. Então escutei um barulho vindo do banheiro, abri a porta e vi que tinha alguém na banheira. Pensei que fosse Francisco, mas quando me aproximei, vi que era o fantasma daquela garota, que tomava banho.
– Olá mamãe! Vou tomar um banho, depois matarei Francisco. Aí será só nós duas e o Bob – disse-me ela sorrindo. Abaixei-me perto da banheira, que estava cheia d’água, e desesperada coloquei minhas mãos em seu pescoço e a afundei dentro da banheira.
– Não! Você não vai matar meu filho! – gritei furiosamente, enquanto ela se debatia embaixo d’água, afogando-se. Então vi uma espécie de aura, com a aparência daquela garota sair da água, voando e passando através de mim. Senti um calafrio gelado naquele momento. Olhei para o fundo da banheira e vi que eu não tinha afogado o fantasma daquela garota, pois ele só serviu para me enganar, e me fazer cometer mais um terrível e imperdoável erro. No fundo da banheira cheia de água só havia o corpo sem vida de Francisco.

Michael Kiss

[Conto]Necrofagia - A Câmara Mortuária

"Necrofagia: [Do gr. nekrophágos.] Adj. S. m. 1. Diz-se de, ou animal que se alimenta de cadáveres. Do DICIONÁRIO AURÉLIO de Língua Portuguesa."

- Abra os olhos! Vamos!
Silêncio... moveu a mão em frente aos olhos:
- Argh! Estou cego!
Apenas a escuridão.
Intensa.
...plop!...
Algo rolou ao toque de seu cotovelo.
O chão: áspero.
...dor...nas pernas e quadril...dói a cabeça!
...e o fedor... algo morto...um fedor insuportável....
Arrastou-se para o lado, tateando. Notou coisas miúdas mexendo pelo chão e por sobre o corpo. Encontrou logo a parede. Ao mover o braço esquerdo percebeu o brilho dos ponteiros fluorescentes do relógio: "graças a Deus!". Não estava cego. Apenas as trevas eram tão intensas que o impossibilitavam enxergar um palmo à frente dos olhos. Passou a língua seca pelos lábios...estavam queimados...náusea. Vomitou nervosamente. Clorofórmio. Olhou no relógio: três e quinze. Da tarde ou da madrugada? De qualquer forma o haviam mantido desacordado por horas a fio. Usaram clorofórmio... ainda podia sentir o gosto amargo, mas o perfume enjoativo do anestésico quase não se distinguia do fedor acre que empestava o ambiente. Definitivamente havia alguma coisa morta e apodrecida naquele mesmo recinto. O ar havia se tornado minimamente respirável: insalubre. Cada respiro: sufocante. Chegou a cabeça rente ao chão. Ainda horrível, mas respirável... Acima a emanação cadavérica parecia corrosiva. Escarafunchou os bolsos à procura do isqueiro:
- "...putaquepariuputaquepariuputaquepariu..."! Onde é que eu tô? A pequenina chama bruxuleava como que rasgando uma superfície de breu. Temporariamente ofuscado, afastou a chama dos olhos. Ergueu-a. Ainda não via nada. Ergueu um pouco mais...
...whoup!...
Uma língua de fogo preencheu todo o ambiente. O ar mefítico explodira em uma bola de gases incandescentes fazendo com que o infeliz se encolhesse todo com o susto. Felizmente o fenômeno ocorrera em apenas uma fração de segundo. O bastante para deixá-lo trêmulo, apavorado e com os pêlos do braço e cabeça chamuscados.
- "Metano" - pensou.
Algo grande havia se decomposto naquele mesmo ambiente. A idéia de estar preso em um lugar onde algo ou alguém havia morrido o atingiu como uma marretada. Permaneceu congelado, petrificado na mesma posição, sentindo o medo se espalhar por todos os poros do corpo, ouvindo o silêncio. Silêncio? Não, não estava em silêncio. Havia algo ali com ele. Zumbidos. Moscas? Sim, moscas. Podia senti-las andando sobre seu corpo. Um enxame delas. E algo se arrastando pelo chão...
Levantou-se de um pulo e o impulso rápido fê-lo desferir um golpe seco contra o teto baixo.
- ah! "feladaputa". Minha cabeça, caralho!
Coçou o cocuruto. O teto não devia ter mais do que um metro e sessenta. Apoiou as duas mãos tateando, estendia-se reto à sua frente e para os lados. O fedor de carniça continuava horrível, mas, depois do fogo, o ar tornara-se respirável. Pôs-se novamente a escutar. Agora que estava em pé pôde perceber um pequeno chiado vindo do alto à esquerda. Moveu-se lentamente na direção do som até encontrar outra parede, adjacente à que estava encostado. O chiado parou. Apoiou as duas mãos nas paredes, ficou de frente para o canto. Algo saliente e pontudo feriu sua mão direita. Acendeu novamente o isqueiro, apesar do medo de causar outro incêndio que não aconteceu. A saliência pontuda era um vergalhão de ferro enferrujado. As paredes: concreto. O teto: concreto. O piso: concreto. Sólido. Amarelecido e com alguns tufos de musgo aqui e ali, infiltrações. Mas no alto do canto, na junção com as duas paredes e o teto, havia uma abertura redonda - um cano, na verdade - grande o bastante para se enfiar o braço. Foi o que ele fez, e... nada. Gritou desabaladamente: pediu por socorro, implorou por ajuda, pediu pelo amor de Deus. Mas nada nem ninguém deram sinal de tê-lo escutado. A chama do isqueiro queimou-lhe o dedo. Voltou-se para o interior, esperou que o isqueiro esfriasse, acendeu. Estava em um cubículo com não mais do que 4x4 m. de lado e no máximo 1,60 m. de altura, e no teto, ao centro, uma portinhola de ferro, trancada, que abria para dentro. O chão estava coalhado de moscas mortas, chamuscadas, mas várias delas ainda voavam e se moviam pelo local. ("provavelmente estavam entrando pelo buraco no teto"). Também havia vermes - centenas, milhares, dezenas de milhares de vermes que se reuniam em pequenos montículos e esporadicamente se moviam entre as moscas mortas do chão. Do outro lado do cárcere havia dois montes maiores, não de vermes, mas indistinguíveis de onde estava. À medida que se aproximava, o monte que estava à frente tomava a forma de um homem: sim, era um homem! Cabeludo, barbudo. Deitado de bruços com a cabeça virada para o outro lado. Sentiu uma pontada de alívio por não estar ali sozinho:
- Graças a Deus!
Apressou-se em tentar acordá-lo, mas, como não acordasse, reuniu forças e, (como o homem parecia por demasiado gordo) de um puxão virou seu corpo para si como se quisesse encará-lo. Mas o que o encarou foi um cadáver. Com as órbitas dos olhos carcomidas, a boca igualmente escancarada e negra. Ambas as concavidades eram um criatório de vermes; movendo-se e derramando das úlceras purulentas. O fedor que se levantou foi ainda mais tétrico. Aquilo não era um homem, muito menos um homem gordo - seu volume era devido ao inchaço causado pelos gases que se seguem à degeneração da carne. E como esta última se encontrava pastosa e grudada ao chão, o movimento do corpo fez com que o ventre se partisse expondo o seu interior enegrecido. As tripas haviam permanecido grudadas ao chão...
A visão do corpo decomposto e o mau cheiro provocaram um asco, seguido de uma náusea ainda maior do que a do clorofórmio, já não havia mais nada a ser botado para fora: vomitou bile, amarga, queimando-lhe a garganta...
...o isqueiro apagou...acendeu...
Engoliu o choro desabalado que o havia acometido, enfrentou o nojo, pôs-se a investigar o ambiente para descobrir alguma pista que o ajudasse a sair desta condição. Mas o semblante do morto não deixava de encará-lo. Mesmo sentindo repulsa ele não parava de olhar para aquela face contorcida - reveladora da agonia que acometera o moribundo, momentos antes do estertor final - esverdeada à luz tênue do isqueiro. Tentou desanuviar a mente. Olhou um pouco adiante, para o segundo monte encostado à parede, atrás do corpo,- só então se deu conta do que rolara ao toque do seu cotovelo no momento em que acordara:
- argh! Crânios humanos! Meu Deus! Quantos ossos...tantas pessoas...?- engoliu seco, as palavras engasgaram na garganta. Horrorizado, apavorado: - Eu vou morrer! Meu Deus não deixe que isso aconteça! Eu vou morrer... Empilhados no canto estavam tíbias, fêmures, crânios, costelas, restos de roupas, dentaduras, dentes de ouro ainda nos maxilares, próteses de platina...
Formando um amontoado negro e cheio de lodo que chegava à quase a metade da distância entre o chão e o teto. Desviou o olhar. Perscrutou em volta. Uma pequena lata de extrato de tomates encostada na parede, cheia de água colhida das infiltrações: as pessoas estavam sobrevivendo ali. E o homem morto? De quê morrera? Fome. Seu semblante era esquálido. Certamente morrera de fome. Desafiou novamente a repulsa e olhou para o homem. Só então percebeu algo escrito; tatuado no peito do morto:
- ...MI...
Deu-se conta de uma ardência na pele de seu próprio peito, outra tatuagem:
-...MID...
Afastou um pouco a camisa para o lado esquerdo:
-...MI-DA.
Desesperado, desnudou o peito arrancando os botões da camisa e leu:
- CO-MI-DA.
Comida! Era o mesmo que estava tatuado no morto.


* * *

- Não pode ser! O desgraçado não pode estar querendo que eu coma gente! GENTE! PESSOAS! - gritava ele desesperado andando em círculos no centro da câmara mortuária - E esse defunto? Nem presta mais! Está podre! Se comer isso, morro de disenteria!
Já fazia horas que estava às voltas com aquele dilema, quase um dia inteiro, ou melhor, 24 horas, já que não tinha como saber se era dia ou noite. Neste meio tempo já havia revirado o monte de ossos em busca de coisas úteis: 3 relógios(todos quebrados); trapos de roupas (que juntos formavam uma pequena pilha de uns 35 cm); 2 isqueiros bons, 1 vazio e quebrado; vários chaveiros com chaves; 5 óculos (todos quebrados) cujas lentes foram claramente polidas para serem usadas como facas; 1 estilete feito com um pedaço de vergalhão retirado da parede; restos de uma tocha feita com um fêmur e os trapos ensebados dos mortos. Este último item, alíás, ele descobriu ser uma ferramenta importante, porque além de economizar o gás do isqueiro como fonte de luz, quando acesa ajudava a diminuir a catinga que exalava do corpo putrefato, espantava as moscas, e, mais tarde, ele também descobriria que seria de serventia para cozinhar moscas e vermes que aplacariam a fome mordaz a que seria submetido. Também, foi ao utilizar a tocha que ele pôde descobrir a fonte do chiado que vinha do cano no teto - toda vez em que era acesa a tocha, o chiado iniciava, parando alguns minutos após ela ser apagada. Concluiu que devia ser um exaustor acionado por um sensor de fumaça; simples, mas eficiente. O problema com a tocha era que dentro da câmara, por si só, já fazia muito calor, com uma fonte de fogo a coisa ficava ainda pior. Daí em diante aprendeu logo a ficar no escuro. Pelo mesmo motivo havia desistido de uma idéia maluca de cremar o corpo do homem: - "com uma fogueira desse tamanho isso aqui pode virar um forno, e se eu não morrer cozido, morro sufocado com a fumaça..." - pensou. Quanto às lentes de óculos, não poderiam servir para outra coisa senão cortar e trinchar carne humana. De fato, elas possuíam formatos diferentes para diferentes tarefas e todas estavam sujas com sangue seco. Já o estilete, obviamente, servia para a mesma finalidade das lentes, mas também servia para outra coisa: escavar. As paredes estavam cheias de buracos, mas era óbvio que o concreto era espesso demais, duro demais para ser escavado. Sem falar que a câmara devia ser dentro da terra. Um túnel seria uma tarefa para vários meses, tempo que, talvez, ele não tivesse. Pensou então em escavar em volta da portinhola de ferro que se encontrava no teto ao centro. Mas também já haviam tentado isso. As dobradiças estavam firmemente soldadas em uma placa de ferro, que, por sua vez, estava soldada em uma malha de vergalhões que se estendia por toda a estrutura. O espaço em volta da portinhola era o mais escavado. Não tinha jeito, o local era à prova de fugas. Outra coisa: todos os pertences pessoais das vítimas pareciam estar lá. Isqueiros, chaves, relógios, etc. Tudo... Menos as carteiras com os documentos. Será que o raptor queria transformá-los todos em indigentes? Estaria querendo dificultar seu reconhecimento? Queria que esquecessem quem eram? A carne não tem nome... ou será que todas aquelas vaquinhas que vão todos os dias para o abate são chamadas pelo nome? Não, elas recebem um carimbo da saúde pública, do mesmo jeito que recebera a tatuagem em seu peito. Ali dentro não passava de simples CO-MI-DA! Será que todas aquelas pessoas teriam se alimentado de carne humana? Seria aquele um buraco de canibais? Que espécie de monstro o havia raptado? Até onde podia chegar a loucura humana a ponto de rebaixar seus semelhantes à tão vil patamar de existência? O ódio dele contra seu raptor agora era tão grande que poderia retalhá-lo e dá-lo de comer aos porcos, só para ficar assistindo e perguntando se estava feliz de ser feito de alimento. Divagou até sentir sono. Sentou encolhido em um canto e adormeceu. Sonhou que estava em um jantar chique, vestindo fraque, sentado a uma mesa luxuosa, em volta da qual pessoas de alto nível conversavam e riam frugalmente. Os serviçais chegaram com o prato principal, que ao ser destampado revelou uma cabeça humana que implorava: - não me coma, por favor, não me coma! No sonho ele se levantava horrorizado da mesa se recusando a comer e gritando "não", "não", enquanto todos os outros convidados gargalhavam e o ridicularizavam com mãos e pés humanos na boca, totalmente lambuzados da orgia canibal. Acordou suado e sobressaltado.
* * *

...tum,tum,tum...
O ruído, alto, ecoou.
...tum,tum,tum...
Novamente.
Estavam batendo do lado de fora da portinhola de ferro:
- Alguém vivo? - ecoou a voz de um homem do outro lado.
- "graças a Deus! Estou salvo". - o haviam encontrado, pensou.
Fazia 96 horas que estava ali e seu captor não havia dado sinal de que iria aparecer. Só poderiam tê-lo encontrado...
- Tirem-me daqui! - gritou num misto de alegria e desespero.
- Há. Hahahahaha! - em resposta apenas uma gargalhada. Era ele. O maldito, o desgraçado que o havia raptado e colocado ali. Finalmente o covarde aparecera:
- Me tira daqui seu desgraçado! Filho da puta! Quando eu sair daqui eu vou te matar! - novamente a gargalhada em resposta... isso o deixou irado: começou a bater na portinhola como se quisesse derrubá-la a murros. Esforço em vão.
... a gargalhada...
E então: silêncio. Ambos permaneceram assim por alguns segundos. Apreensão. Até que o outro lado da portinhola quebrasse subitamente a tenção perguntando em tom jocoso:
- Será que você está com fome?
- Vai à merda seu filho da puta! Você sabe que estou! Não fazia muito ele havia comido um cozido de vermes e moscas. E por isso sentia-se enjoado e nojento.
- Mas aí tem muita comida...Este último tripudio fez com que explodisse em ódio - se pudesse romper aquela portinhola transformaria-se em um psicopata ainda maior do que seu captor. Mataria-o sem nenhum remorso. Mas ao invés de demonstrar isso, preferiu demonstrar que era diferente, que com ele as intenções daquele demente nunca surtiriam efeito:
- Se você acha que eu vou me transformar em um canibal está muito enganado! Eu nunca vou comer gente! Está ouvindo? Prefiro morrer! Desta vez a gargalhada foi ficando cada vez mais distante, ele estava indo embora, mas não sem antes deixar uma última sentença:
- Será que a sua força de vontade é tão grande quanto os seus dotes de crítico literário? Eu duvido! Você vai se tornar aquilo que eu quero, sim, e muito em breve vai ter muita comida para se fartar, tanta, tanta carne...sssim, muuita carne...O som da gargalhada foi se esvaindo aos poucos até que um barulho de ferro com ferro (de certo uma tampa de bueiro) a interrompesse por completo. Mas, o que ele quis dizer com "dotes de crítico literário"?
- Meu Deus! Não pode ser! Mas, é impossível! Uma torrente de memórias se formou em sua cabeça. Aquele homem era mais insano do que nunca poderia imaginar. Mas como? Um trojan, só poderia ser isso. Mas tinha de ser extremamente bem feito para passar pelo seu sistema de software; firewall, antivírus, detectores de worms... descobrira seu nick. Vinha monitorando sua vida por todo aquele tempo, um ano, pouco mais, pouco menos. Por isso sabia o local do seu trabalho, a hora em que saía, onde estacionara o carro... daí foi fácil, um garrote por trás, clorofórmio e pum! Mais uma vaca pro abatedouro! O louco era extremamente inteligente... Lembrou-se na hora daquele conto de horror que lera na internet. O havia encontrado em um site onde outras historietas eram enviadas pelos leitores e publicadas. O título lhe chamara a atenção: "Necrofagia". Contava a história de um garoto que fora obrigado a comer a carne do próprio pai após um acidente de avião, anos mais tarde ele tornara-se um psicopata que seqüestrava suas vítimas e os obrigava a comer carne humana. Apenas fora omitida a câmara em que estava, de resto, era exatamente a situação por que estava passando. Lembrou-se de ter enviado um comentário ao conto, definido como "horror gore". Escrevera que o achava infantil, de mau gosto, mau escrito e inverossímil. Inverossímil! Ou seja, que nunca poderia ser verdade! Sua situação tornara-se irônica ao ridículo! À época ainda tripudiara sobre a definição do conto: - "o quê quer dizer 'horror gore'? seria 'piada de mal 'gore'?". Muito engraçado... Também houve outros comentários ao texto além do seu, onze para ser mais exato. Acendeu a tocha e começou a contar os crânios na pilha de ossos: dez, com mais o da "carniça"... - onze. Existe um ditado que diz: "quem fala o que quer, ouve o que não quer".
* * *
Já não sabia mais quanto tempo estava lá. Passava mais tempo dormindo do que acordado, visivelmente magro e sem forças. As moscas e vermes já não o satisfaziam mais. A vida não mais importava. Quando não tinha mais esperança, ela foi renovada. Acordou de súbito com um susto: a portinhola foi aberta com um estrondo e por ela despencou um corpo. Antes que pudesse alcançar a saída ela foi fechada, tão rapidamente quanto fora aberta. Apalpou em volta buscando o isqueiro e a tocha, que foi acesa com presteza, pegou com a mão direita o estilete e se aproximou do corpo que caíra pela abertura do teto. Tratava-se de uma mulher, desacordada, ainda sob efeito do clorofórmio; bonita, com os cabelos longos e escorridos, caídos no rosto por cima dos óculos de armações leves, ligeiramente acima do peso: gordinha, isso era bom... Ajoelhou ao lado dela e olhou para seu peito:
- CO-MI-DA!
Apertou o cabo do estilete, mirou a jugular. E os personagens continuaram sem nome...
Brunno Bocca
"Necrofagia - A Câmara Mortuária" - no prelo. (Todas as situações, logradouros, personagens vivos, mortos ou morto-vivos descritos aqui não têm qualquer relação com a realidade, qualquer semelhança é mera coincidência)

[Lenda]O Passeio Público de Curitiba

O Passeio Público de Curitiba é um parque com zoológico inaugurado em 1886 no centro da capital paranaense. Reza a lenda que foi um famoso barão com poderes sobrenaturais que deu a idéia de inaugurar esta área de lazer, bem no centro de Curitiba, ao presidente da província do Paraná Alfredo Taunay. Ainda conforme o mito, tal projeto surgiu quando o místico barão visitou o Cemitério de Cães de Paris, tanto que o portão de entrada do Passeio Público é semelhante ao portal deste campo–santo francês. O Passeio Público, também, é repleto de outras lendas, que leremos abaixo:

Fantasma do Barão: Reza a lenda que toda à noite de Lua Cheia surge uma alma vestida de Barão neste parque. Vários vigilantes já relataram esta estória.

O Ladrão de Cobras: No Passeio Público há um museu apelidado de “serpentuário”. Pois nele há vários tipos de cobras, dentro de vidros, para que o povo possa apreciá–las. Há muitos anos atrás corria um boato de que um ladrão de serpentes, que tinha roubado uma cobra de uma bailarina de dança do ventre numa boate do centro, andava pela cidade atrás de serpentes para rituais de magia negra. Mesmo com esta estória rolando a segurança do “serpentuário” não aumentou. Numa sexta–feira, em pleno meio–dia, um homem chegou ao “serpentuário” com um martelo, quebrou o vidro e roubou uma caninana. Então um homem vestido de barão apareceu do nada e gritou:
- Devolva este bicho!
O bandido levou um susto, fazendo com que cortasse um pedaço da mão através de um pedaço de vidro. Mesmo assim ele saiu com a serpente. Na saídas pessoas viram o rapaz com o animal dentro de uma garrafa pet de dois litros. A população alertou a Guarda Municipal que prendeu o marginal em flagrante.

Espírito do Transformista: Durante os anos setenta e oitenta, o Passeio Público ficou com a segurança negligenciada e por isto surgiram no local travestis e garotas de programa. Naquela época havia um transformista que se vestia de cigana e jogava cartas de tarô aos freqüentadores do parque. Um certo dia o corpo desta pessoa foi encontrado morto e boiando em um dos lagos do Passeio Público. Alguns dias se passaram e uma menina chamada Melissa, de cinco anos de idade, foi passear com sua família neste local. Durante as brincadeiras a criança se perdeu dos seus parentes e foi chorar no “playground” do estabelecimento. De repente, uma criatura vestida de cigana aproximou – se da menina e indagou:
- Por que está chorando, pequena?
Melissa respondeu:
- Porque eu estava brincando e, como um raio, minha família sumiu.
A cigana pegou na mão da menina e comentou:
- Não se preocupe... Eu guiarei você até os seus familiares.
Assim a pequena perguntou:
- Você é uma fada?
A criatura respondeu:
- Não sou uma fada, mas sou o espírito de uma pessoa que já leu o destino de muita gente neste parque. Hoje a minha função é cuidar das crianças que se perdem neste imenso Passeio Público.
E a cigana sumiu com a menina no passeio publico. Tempos depois, a família da menina se depara com uma multidão as margens do lago, preocupados (e curiosos) vão olhar o que estava acontecendo, e viram Melissa, boiando, afogada nas aguas verde do Passeio Público.

[Lenda] O Pentagrama

Desde o início dos tempos há o medo em que forças das trevas invadam corpos de pessoas que fazem invocações através de rituais milenares usados apenas por feiticeiros poderosos e seguidores de magia negra. Nas profundezas do inferno almas clamam por piedade e na primeira oportunidade escapam de seus martírios e retornam ao mundo dos vivos em forma de espíritos malígnos que invadem os corpos das pessoas. Jonas sempre teve um lado meio diabólico e sua maior diversão era brincar com jogos que possivelmete poderiam atrair espíritos para perto dele. Quando jovem, na escola, vivia assustando seus colegas com histórias e fotos de terror. Hoje com 38 anos já possui uma esposa e uma filha de 12 anos as quais ama muito. Apesar de todas as experiências já realizadas, ainda faltava uma: "O pentagrama", ele sempre teve medo de fazer mas uma matéria que viu na televisão sobre o assunto despertou novamente o interesse em realizá-la. Ficou um mês planejando e estudando sobre o ritual até que conseguiu reunir todos os artefatos para fazer uma primeira sessão de invocação de espíritos. Em uma de suas leituras ele viu que precisava dar algo em oferenda para o demônio, pois ele não faria nada de graça. Todas as fotos que Jonas encontrava via que o diabo estava rodeado de oferendas. Em um dos livros leu que se ele oferecer algum familiar o pedido será atendido com mais rapidez e nada de mal aconteceria com a pessoa oferecida. Jonas mais consciente junta tudo o que precisaria para fazer o ritual na noite de sexta feira 13. O que um dos livros dizia era que ele teria que sacrificar algum ser vivo bem no centro do Pentagrama. Jonas pensou e resolveu sacrificar um gato que não tinha dono e morava na vizinhança. Um dia antes Jonas estava estranho com sua família, permanecia calado e pensativo mas Mariana, sua filha e Suelen, sua mulher nem ligaram muito pois era normal ele ter mudança de comportamento. Na sexta feira bem cedo ele conseguiu capturar o gato e deixou ele preso em casa já que sua mulher e filha voltariam bem tarde da noite pois haviam ido em uma festa na escola de Mariana. A noite chega, Jonas reuni todos seus objetos e livros, sai de casa e vai de carro para um lugar deserto e bem escuro. Em menos de uma hora chega ao local, sai do carro e com uma lanter ilumina o livro que dá instruções de como fazer o pentagrama. O gato que estava no carro gritava muito. O pentagrama é feito no chão de terra e em cada ponta uma vela preta é colocada, Jonas fica no centro e começa a ler umas frases em uma língua estranha e diversas imagens começam a vir em sua mente. Esta seria uma imagem do templo de Satan, mas que Jonas pensava ser apenas fruto de sua imaginação. Depois de uns dez minutos lendo o livro em voz alta ele vai até o carro e pega o gato que estava preso em uma caixa. O aninal estava furioso mas Jonas com o intuito de realizar o ritual corretamente retira de seu bolso um canivete e começa a mutilar o pobre felino que começava a pular de dor. Jonas estava fora de si e cada vez mais dava golpes no gato. Com muita luta ele conseguiu sacrificar o gato mas muito sangue estava em seu rosto. Jonas coloca o corpo do animal no meio do pentagrama com velas pretas nas pontas e continua a ler mais uma página de um dos livros. Para finalizar o ritual ele faz a leitura em voz alta e diz que a oferenda está servida. E faz seu pedido:"Se livrar das dívidas e ter muito dinheiro para gastar", por último de tudo diz que em compensação ao favor lhe concederá sua filha Mariana que estará pronta a serví-lo. Jonas se limpa, pega rapidamente suas coisas e parte para sua casa. Consegue chegar antes de Suelen e Mariana. Cinco meses se passam e Jonas já não tinha mais dívidas. Dois anos depois eles já moravam em uma bela casa e tinham dinheiro para tudo o que quisessem. Mariana estava com 15 anos mas parecia estar mudada, se interessava cada vez mais por contos de terror e assuntos relacionados ao demônio. Seus pais achavam estranho mas pensavam ser coisa da idade. Mariana piorava a cada dia e chegou a ser viciada em drogas injetáveis por uns três meses até seus pais descobrirem. Ela havia se tornado uma menina muito rebelde e de certo modo selvagem. Jonas nunca havia contado para ninguém sobre o ritual do pentagrama e também já não se lembrava mais. Um dia o relógio marcava duas da madrugada e Mariana não havia voltado para casa desde quando saiu para ir para a escola a tarde. Jonas havia saído para procurá-la e Suelen estava desesperada em casa. O portão se abre e Mariana entra em casa, Suelen pensava que ela estava drogada novamente mas desta vez o assunto era mais sério. Suelen grita muito e briga com sua filha, Mariana não diz nada, vai até a cozinha, pega uma faca e vai em direção a sua mãe que estava na sala. Suelen continua a gritar e mandava ela soltar a faca, mas Mariana com muita força a pega pelo pescoço e faz com que sua língua fique para fora e sem dó nem piedade corta a língua de sua mãe. Mariana vai dormir e deixa Suelen agonizando de dor até que Jonas voltasse e a encontrasse toda cheia de sangue no chão da sala. No hospital os médicos analisam a profundidade do corte. Dão os pontos necessários e logo pela manhã ela tem alta. O casal retorna para casa e ainda encontra Mariana dormindo. Jonas vai até o quarto dela a e começa a dar socos na menina, Suelen mesmo com dores e sem poder falar tenta impedir mas Jonas era forte e continuava a bater na menina que não tinha nenhuma reação. Depois de uns dez minutos de tortura Mariana se levanta e com uma voz grave e medonha diz:-Você prometeu. Jonas sai rapidamente do quarto e tranca a porta. Suelen apavora-se e começa a chorar, mas seu marido a acalma. Algumas semanas se passam. Suelen já podia falar e Mariana cheia de marcas pelo corpo já tinha melhorado seu jeito de ser e conseguiu o perdão de seus pais. Jonas no trabalho não conseguia esquecer que ele era o culpado pelos acontecimentos e decide fazer novamente o ritual do pentagrama. Em uma outra noite que estava sozinho reuniu os mesmos objetos da outra vez e partiu para outro lugar deserto. Num dos livros que ele usou da vez anterior havia mais algumas rezas que ele não havia realizado, pensou ser alguma coisa para reverter o que ele tinha feito mas pela segunda vez ele se enganou. Mariana chega em casa e vai para seu quarto. Uma hora depois chega Suelen e se prepara para tomar banho. Jonas faz o pentagrama fica no centro e começa a ler aquelas palavras estranhas, mas o que ele estava fazendo naquele momento era o ritual de invocação do demônio. Sem saber estava levando o diabo para dentro de sua filha. Mariana começa a sentir algo estranho e lágrimas de sangue escorrem pelo seu rosto pede ajuda para sua mãe que estava de roupas íntimas e a banheira estava cheia de água. A menina pede para sua mãe um copo de água, Suelen corre desesperada e traz o que sua filha havia pedido. No pentagrama, Jonas estava quase no final do ritual e o volume de sua voz se erguia a cada momento. Mariana toma a água e começa a se mexer rapidamente, Suelen grita por socorro mas Jonas acabara de colocar o demônio dentro de sua filha, Mariana quebra o copo e com um pedaço de vidro corta a garganta de sua mãe. Arrasta ela até a banheira e agora corta seus pulsos. Jonas termina sua leitura e segue tranqüilo para casa pensando que todo o mal que estava na sua casa havia ido em bora. Ele põe o carro na garagem, abre a porta e vai em direção ao seu quarto quando vê um rastro de sangue pelo chão, entra no banheiro e vê sua esposa morta na banheira e sua filha chorando e com as mãos ensanguentadas. Quinze anos se passaram. Jonas também foi assassinado por sua filha que enquanto o matava ria e cantava muito. A menina foi incriminada pela morte de seus pais, mas por ser de menor foi recolhida para uma unidade da Febem onde ficou até seus vinte anos. Nenhum parente se interessou por Mariana. Hoje devido aquele ritual o mal permaneceu em Mariana e agora com 25 anos criou uma igreja satânica onde realiza cultos ao diabo.

Mulher de Vermelho[Lenda]

Um jovem casal estava muito feliz por estar podendo realizar todos os seus sonhos. ja moravam juntos a pouco tempo, tinham um pequeno filho de, seis meses de idade, e tinham acabado de se mudar para um apartamento que a muito tempo eles queriam. Uma tarde de final de semana, o casal depois de brincar com o bebê, acabou adormecendo. o bebê acordou e saiu engatinhando pela casa. Foi de "gatinha" até a sacada do apartamento e de la, caiu de do quarto andar. O casal foi acordado pelos vizinhos e ficou, obviamente, transtornado com o fato. Eles acabaram indo embora dali, pois não conseguiam mais viver em paz naquele apartamento. No dia em que a mudança foi toda retirada, a pobre mãe, que havia perdido seu filho de forma tão cruel, estava sozinha. Ja era noite, quando no alto de seu desepero ela falou que faria qualquer coisa para ter seu filho de volta. Ela acabou dormindo no chão da sala vazia, mas foi acordada por uma voz que falava com ela. Assustada, ela se lavantou do chão e viu uma mulher vestida de vermelho. A mulher falou que poderia trazer o bebâ de volta, em troca de um favor. A mãe teria que matar um criança da mesma idade do seu filho e oferece-la para a mulher de vermelho. No desespero de mãe, ela acabou fazendo isso e tendo o seu bebê de volta. A mulher de vermelho devolveu o bebê vivo para os braços da mãe. O único inconveniente e que o bebê foi devolvido no mesmo estado em que se encontrava depois de todo o tempo enterrado. O bebê era uma massa deformada em carne viva.