Errar é humano, mas certos erros não são. Eu ignorei a voz da razão de uma maneira cretina e insana, e por mais que possa me arrepender, eu nunca poderei mudar os fatos ocorridos. Fatos estes que me levam a narrar esta história maldita, em que se transformou minha vida. Meu nome é Marcelle, hoje tenho 65 anos, e moro num asilo, pois ninguém da minha família jamais me perdoaram pelos erros que cometi. Na época em que determinados fatos aconteceram, eu era uma adolescente de 17 anos, e comecei a namorar com um rapaz de 20 anos. Minha mãe sempre me dava um sermão quando chegava tarde em casa, dizia para mim não ficar até tarde com Nando, meu namorado. Ela ficava dizendo um monte de coisas, do tipo; “não deixe este rapaz se aproveitar de você”, “homens são todos iguais, eles só querem se divertir com garotas bonitas como você”, “e se você engravidar seu pai a expulsará de casa” ah, como odiava ouvir minha mãe falar essas coisas. a gente brigava direto e certa vez disse a ela que ia dormir na casa de uma colega, mas fui para a casa de Nando. Naquela noite eu não resisti e nós transamos. Mas não usamos preservativo, na hora aquilo nem parecia importante. Mas depois minha barriga começou a crescer, no começo meus pais só pensavam que eu estava engordando um pouco. Mas eu sentia que não era isso. Fui numa clínica com uma amiga e descobri que estava grávida! Aquilo me deixou apavorada, como eu poderia explicar isso para meus pais? Na certa meu pai cumpriria sua promessa de me expulsar de casa. Apavorada, fui contar a notícia para Nando, que ficou chocado e passou a me evitar. Dias depois desapareceu. Seus pais diziam que ele viajou para uma cidade do interior para morar com o avô doente. Não sabia o que fazer... Aí uma garota que conhecia, Laura, me disse para fazer um aborto. Ela tinha razão, era minha única chance de livrar-me daquela criança. Embora ela não tivesse culpa, pois a principal culpada era eu, ela iria pagar com a vida. Assim o fiz, tomei alguns chás fortes e certo dia, creio que já estava com sete meses, corri para o banheiro de minha casa, sentindo dores horríveis em minha barriga, e o feto saiu de dentro de mim, caindo dentro do vazo sanitário. Estava livre daquela criança de uma vez por todas. Eu a retirei do vazo sanitário toda ensangüentada, coloquei dentro de algumas sacolas e joguei no lixo. Mas a partir daí, nos meus sonhos, eu sempre via uma criança com o corpo ensangüentado chorando. Mas tudo bem, pois só eram sonhos. O tempo foi passando, e aos 25 anos eu me casei com Bob, um homem incrível, que me amava, assim como eu o amava. O meu aborto era um segredo, que escondi de todo mundo. Casada e com uma vida bem sucedida, eu engravidei novamente. Tive um filho lindo, que foi batizado de Francisco. E quanto aos sonhos com aquela criança, continuavam. Mas a criança, nos meus sonhos, crescia... era uma garota de longos cabelos pretos e lisos. Ela sempre estava em meus sonhos, completamente nua, tentando me fazer enlouquecer em pesadelos escabrosos. Num deles, ela matava Bob e Francisco com um bisturi, rasgando-os ao meio. Aquilo já estava perturbador demais para mim. Aquela garota era sem sombra de dúvidas, o fantasma daquela criança que eu abortara. E de alguma forma ela queria se vingar de mim. Certa noite Francisco acordou horrorizado e veio até mim, dizendo que uma garota de longos cabelos brancos e sem roupas queria matá-lo. Naquele momento fiquei horrorizada, pois eu não era a única a vê-la em sonhos. Aquilo estava ficando muito estranho. Certo dia, eu voltava do supermercado com várias sacolas de compras nas mãos, entrei em casa e fui para a cozinha, quando vi uma sombra ao meu lado. Olhei para trás e vi aquela garota, tal como ela aparecia em meus sonhos, com os longos cabelos pretos, soltos e completamente nua. Estava ali, parada a minha frente, me fitando diabolicamente. Então ela perguntou:
- Mamãe! Por que há muito tempo atrás você me jogou num saco de lixo e me deixou apodrecer num lugar horrível? E mamãe, por que você sempre está abraçando e dando presente pro Francisco? Por acaso você gosta mais dele que de mim? Sua voz estridente ecoava em meus ouvidos dolorosamente.
– Eu vou matar Francisco. Aí você vai gostar só de mim, não é? – ameaçou-me ela.
Então começou a correr pela casa, até desaparecer da minha vista. Fiquei imóvel, boquiaberta com aquela visão assombrada. Gritei apavorada e comecei a procurá-la pela casa. Mas nada encontrei. Então escutei um barulho vindo do banheiro, abri a porta e vi que tinha alguém na banheira. Pensei que fosse Francisco, mas quando me aproximei, vi que era o fantasma daquela garota, que tomava banho.
– Olá mamãe! Vou tomar um banho, depois matarei Francisco. Aí será só nós duas e o Bob – disse-me ela sorrindo. Abaixei-me perto da banheira, que estava cheia d’água, e desesperada coloquei minhas mãos em seu pescoço e a afundei dentro da banheira.
– Não! Você não vai matar meu filho! – gritei furiosamente, enquanto ela se debatia embaixo d’água, afogando-se. Então vi uma espécie de aura, com a aparência daquela garota sair da água, voando e passando através de mim. Senti um calafrio gelado naquele momento. Olhei para o fundo da banheira e vi que eu não tinha afogado o fantasma daquela garota, pois ele só serviu para me enganar, e me fazer cometer mais um terrível e imperdoável erro. No fundo da banheira cheia de água só havia o corpo sem vida de Francisco.
Michael Kiss

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