[Conto] Uma Noite Com o Demônio

Escrito por Fernando Loggar
Suzana, Henrique, Pedro e Alexandra todos na faixa dos 20 anos, estavam cansados de viver na rotina, eram amigos desde os 15 anos quando estudaram na mesma sala. Desde então experimentaram de tudo juntos, mas o que realmente foi um acontecimento trágico foi o ínicio do uso de drogas.
No início dos anos 90 as drogas estavam se tornando algo comum entre a sociedade e classe média. Depois de um período de dependência, estavam com dificuldades de arranjar um local para poder usar drogas, até que Suzana a mais ousada e corajosa dos amigos sugere que eles deviam ir para um cemitério que não possuia guardas e nem vizinhos que pudessem denunciar os quatro amigos. Todos ficam meio assustados com a idéia mas topam o desafio.
Chega a noite de sexta-feira, Suzana, Pedro e Alexandra entram no carro de Henrique e partem para uma cidade no interior de Minas Gerais para irem ao tal cemitério. A cidade era bem próxima e em menos de meia hora já estariam lá.
Chegando eles descem do carro e ficam parados em frente ao cemitério que estava na escuridão.
Suzana faz com que todos entrem naquele lugar apavorante, pois lá não poderiam ser vistos por ninguém. Suzana sempre foi a mais rebelde e também ela que fez com que os amigos entrassem no mundo das drogas, mas por outro lado ela era muito atenciosa e fiel à suas amizades.
Alexandra a mais comportada dos quatro, sente medo e diz que quer voltar, mas ninguém liga para seu pedido e continuam caminhando em direção a uma pequena cabana abandonada que ficava em um morro no final do cemitério. Suzana diz que ninguém entra ali há muitos anos.
Era uma noite quente de verão, mas estranhamente Alexandra sentia frio e reclamava com seus amigos, Suzana fala para ela calar a boca e continuar andando pois não teriam a noite toda para jogar conversa fora.
Pedro fica ao lado de Alexandra e juntos contiuam a caminhada em direção aquela cabana misteriosa e solitária no alto do morro.
Após quinze minutos de caminhada, finalmente chegam ao seu destino. Henrique dá um chute na porta velha que imediatamente se abre. Alexandra continua amedrontada e Suzanda grita com ela e diz que se ela pular fora agora estará perdida pro resto de sua vida.
A cabana estava escura e isso dificultava a visão dos objetos que a casa possuía. Mesmo assim os quatro se sentaram no chão da sala e começam o uso descarado de alguns tipos de drogas.
Já passava da meia noite quando Pedro e Henrique escutam algo caminhando em volta da casa, as moças se assustam e pedem para que eles saiam e vejam quem estaria lá fora. Pedro com uma faca e Henrique com um pedaço de madeira saem e dão uma olhada no lado de fora e não viram nada. Alexandra começa a gritar e fala para irem embora mas novamente todos negam e falam que vão ficar lá até de manhã e que é para ela se acalmar. Henrique arrasta uma mesa que estava na sala e coloca em frente a porta de entrada, assim caso houvesse alguém ali eles poderiam ficar mais seguros.
Com o passar das horas todos caem e dormem no chão mesmo.
Alexandra sente vontade de ir no banheiro, como a casa não possuía um ela saiu por uma janela e foi para fora. Depois de fazer suas necessidades escuta um estranho barulho que parecia segui-lá e quanto mais ela corria mais o barulho a perseguia, quando tentava pular a janela para entrar na casa, algo a puxa pelo pé e a leva para o cemitério. Seus gritos eram ouvidos a distância e fez com que seus amigos acordassem. Estranhamente Suzana não estava na casa. Pedro e Henrique correm para fora e começam a ter alucinações, tudo parecia diferente e viam pessoas correndo em direção ao cemitério. Com medo eles voltam para dentro e trancam a porta novamente. Neste momento os gritos já haviam parado e Suzana dormia tranqüilamente no chão. Henrique acorda Suzana e pergunta onde estava, ela diz que tinha ido fazer xixi no lado de fora da casa. Pedro a questiona sobre os gritos de Alexandra, Suzana diz que não houviu nada e que ela também deve ter ido no mato fazer alguma necessidade. Os amigos não tinham certeza do que tinha acontecido pois ainda estavam sob o efeito de drogas. Calmos eles se deitam e dormem novamente.
Uma hora depois Pedro abre seu olhos e acorda com uma estranha luz verde, ao olhar para o teto ele vê um corpo pendurado.
Sem conseguir gritar de tanto medo, começa a sacudir Henrique para que ele também veja. Bem na hora em que Henrique acorda o corpo e a luz haviam desaparecido. Herique diz que ele estava sonhando, mas Pedro continuava a acreditar que aquilo era real. Suzana também acorda e oferece mais drogas assim os três poderia dormir mais sossegados.
Com o susto e o uso de drogas os amigos esqueceram do desaparecimento de Alexandra.
Pedro quando estava fumando, olha para Suzana e vê sangue em suas mãos, ela esclarece e diz que estava menstruada naquele dia e não tinha absorvente naquele momento. Novamente os amigos caem e dormem.
Alexandra desapareceu no momento que estava correndo no meio dos túmulos do cemitério.
Por volta das duas da manhã todos novamente acordam com um estrondo na porta, Pedro olha e vê um homem vindo na direção deles. O estranho era que apenas ele conseguia ver o tal homem que o chamava para fora. Henrique e Suzana dizem para ele se acalmar que deveria estar imaginando coisas. O barulho na porta deveria ter sido causado por um forte vento. Pedro olha fixamente para a entrada e não vê mais nada.
Todos já estavam ficando apavorados com os acontecimentos e agora estavam lembrando do sumiço de Alexandra e foi exatamente aí que Suzana começou a rir, pois imaginou que Alexandra estava pregando sustos neles.
Depois dos ânimos acalmados Pedro escuta alguém chamando por ele no lado de fora da casa, curioso ele segue o chamado que o levou até o antigo necrotério que ficava próximo ao cemitério. Ele olha pela janela e vê um homem que parecia estar sendo operado chamando por ele.
Pedro entra em estado de pânico ao ver aquela cena aterrorizante, tenta correr, mas suas pernas estavam travadas. Na tentativa de fuga ele escorrega em um barrando em cai em lugar onde inúmeras estacas utilizadas para se fazer cruz para os túmulos estavam. Começa a tentar sair daquele lugar mas novamente escorrega só que desta vez ele cai exatamente em cima de uma ponta afiada.
O golpe foi fatal e sua morte instantânea.
Suzana acorda e vê que estava sozinha com Henrique, acorda ele também e diz que estava com desejo de ter relações íntimas e que sempre o amou secretamente. Henrique assusta-se mas rende-se aos encantos da bela Suzana. Antes da relação eles fumam um pouco para relaxarem e serem mais espontâneos. Começam se beijando e acabam se amando. Conforme iam se abraçando e se sentindo, Suzana pegou um pedaço de madeira e fincou na costa de Henrique. Ele não consegue se levantar e começa a gritar por socorro. Suzana diz que esse é o amor que ela sente por ele.
Henrique cai morto no chão.
O dia estava quase amanhecendo e um homem que passava em frente ao cemitério escutou os gritos de Henrique e chamou a polícia.
Suzana senta-se na cabana e rindo muito ao lado do corpo de Henrique começa a utilizar drogas injetáveis.
A Polícia chega se depara com Henrique ensangüentado e morto e ao seu lado Suzana. Eles a pegam pelos braços colocam algemas e começam a levá-la para o camburão. Um dos policiais encontra o corpo de Pedro ao lado do necrotério que havia sido demolido na década de 30. Suzana ria compulsóriamente.
Quase na saída do cemitério um policial olha para seu lado e vê escrito em uma lápide o nome junto com a foto de Suzana que estaria morta desde 1918. Olhando em seus documentos os policiais confirmaram o sobrenome. Também intrigados decidem abrir o túmulo para garantir que não seria nenhuma brincadeira. Ao abrir encontram o corpo de Alexandra completamente desfigurada e sem sua pele.
Os policiais nada entendiam, pois segundo a lápide Suzana havia morrido aos quinze anos quando naquele mesmo local entrou para brincar.
Suzana continua rindo como uma voz grossa e misteriosamente desaparece.
Tudo o que aconteceu com os jovens foi resultado do uso de drogas, eles tendo alucinações acabaram se matando.
Mas um mistério ninguém soube responder. Quem era Suzana?

[Conto] Oi Mamãe!!

Escrito por Orivaldo Leme Biagi
Um carro aproximou-se da imensa casa rodeada de árvores. O portão, automático, abriu-se e o carro rapidamente entrou iluminado por um raio muito intenso seguido de um trovão retumbante. A chuva começaria logo, mas parecia não importar à mulher dentro do carro. Depois de seguir uma pequena pista feita de pedras, ela estacionou o carro na frente da imensa casa. A chuva começou lentamente e alguns pingos a atingiram. Seu rosto triste mostrava que ela nada tinha sentido.
Dentro da casa a mulher dirigiu-se ao bar, encheu um copo com uísque e sentou-se no imenso sofá na sala. Vieram outros raios e trovões, seguidos de uma forte chuva. A mulher pegou um retrato sobre uma mesinha perto do sofá, que continha a fotografia de um menino, com aproximadamente 10 anos de idade. Ela tomou um longo gole de uísque e algumas lágrimas escorreram de seu rosto. Ela encostou o retrato no seu peito e começou a chorar mais forte.
O barulho da chuva caindo e o soluçar da mulher retumbavam por toda a casa, sendo que seu soluçar parou pelo tocar do telefone. Ela pegou o telefone.
- Ah, é você! – respondeu a mulher, com desprezo. – O que você quer? COMO? Você quer saber se estou bem? CLARO QUE NÃO! Só um medíocre como você poderia perguntar algo assim depois do que aconteceu... NÃO ESTOU GRITANDO! E, sim, ESTOU BEBENDO, SIM! Não é da sua conta o que eu faço... O QUÊ? Como ousa dizer isto, seu CANALHA! Mais do que ninguém EU O AMAVA! NÃO ME FALE DAQUELE DIA!!! DEIXE-ME EM PAZ! – e desligou brutalmente o telefone, indo até o bar para encher o copo com uísque novamente.
Voltou-se a sentar no sofá, exatamente como estava sentada antes do telefonema. E segurou o retrato exatamente como tinha segurado antes. Seu soluçar ficou mais alto e suas lágrimas aumentaram.
- Não fui eu, amor! Não fui eu! – ela falava, entre um gole e outro de uísque, entre uma lágrima e outra que caía a cada soluçar. Raios, trovões e chuvas completavam o som do local. Logo, ela adormeceu.
Um trovão muito forte a acordou. Tudo estava apagado, pois a energia elétrica havia acabado por causa do mau tempo. O copo, vazio, estava caído no chão. O retrato ainda estava no seu peito. Ela levantou-se, ainda zonza e com dor de cabeça, sem saber para onde queria ir. Um raio iluminou a sala e ela, intrigada, viu a figura de um menino. O mesmo do retrato.
- Oi, mamãe! – disse o menino, com uma expressão vazia no rosto.
Ela abriu os olhos e sorriu. Não estava mais zonza nem a cabeça doía mais. Ela correu até o menino e o abraçou, ajoelhando-se. Abraçou com muita vontade.
- Meu filho! MEU FILHO! É você, não? Sim, É VOCÊ! Pensei que jamais o viria outra vez! – e abraçava forte o menino, que, por sua vez, não mudava a expressão vazia do rosto. – Estava com saudades de você, meu filho! – disse a mulher, chorando e rindo ao mesmo tempo.
- Eu sei, mamãe! – disse o menino sem maiores emoções. – Estou aqui como você queria.
Ela chorava muito e o abraçava com força.
- Andou bebendo de novo, mamãe? – perguntou o menino com frieza.
Ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas.
- Não importa! – ela disse. – O que importa é que você voltou!
Ele manteve-se impassível enquanto andou para o centro da sala, desvinculando-se do abraço dela.
- Naquele dia você bebeu, mamãe! Lembra-se? – ele disse, olhando para o copo caído no chão. – Você e papai brigaram feio na cidade e você me trouxe para cá. Você bebeu muito naquele dia!
Ela levantou-se e, parando de chorar, olhou com preocupação para o menino.
- Por que você está falando estas coisas? Aquele dia passou e você está aqui!
- Aliás, você sempre bebeu! – continuou dizendo o garoto, sem emoções. – Desde que me conheço por gente! Nossa vida sempre foi ver você beber e brigar com papai ou brigar com papai e beber. Sempre a mesma coisa.
Ele pegou o copo do chão e o olhou profundamente. Viu ainda um pouco de uísque no seu interior. - O que isto tem que eu nunca tive, mamãe? – perguntou o menino. – Meu sorriso, minhas notas na escola, minhas brincadeiras... nada disso conseguia fazer você olhar para mim – você sempre olhou para isto!
Ele continuou olhando para o copo.
- Naquele dia, vindo para cá, tudo ficou escuro por um momento... lembro muito pouco daquele dia. – disse o menino. – Na verdade, a única coisa que me lembro bem foi o seu cheiro disto antes de tudo ficar escuro, mamãe!
- Meu amor! – disse a mulher, aproximando-se do menino, tirando o copo de sua mão, abaixando-se para poder olhar dentro dos seus olhos. – Tudo isto passou, meu amor! Errei muito antes e jamais te dei o amor que deveria ter te dado... mas, agora, com a sua volta, tudo será diferente! Aquele dia acabou e não acontecerá de novo! Não é tarde, meu amor! Tenho outra chance para te dar todo o amor que jamais te dei! Ainda não é tarde!
Pela primeira vez na noite, ele sorriu. Mas ela ficou mais assustada do que propriamente calma com este sorriso. Seu sorriso era aterrorizante, não confortador.
- É tarde sim, mamãe! – respondeu o menino. – Mais tarde do que você imagina!
Ele começou a pular pela sala, gritando histericamente “MAMÃE! MAMÃE! MAMÃE!”, enquanto que os raios, trovões e a chuva continuavam inabaláveis.
- Meu amor, o que aconteceu? – disse a mulher, chorando.
- Você nunca me amou, mamãe! – respondeu o menino, ainda pulando. – Jamais amou alguém!
- EU TE AMO!!! – ela gritou.
Ele parou de pular e a olhou profundamente.
- Não me amou quando eu estava vivo... como poderia me amar agora? – e, no final destas palavras, ele sorriu. O mesmo sorriso aterrorizante de momentos atrás.
Ela parou de chorar e, paralisada, tentou entender as palavras de seu filho.
- Você me matou naquele dia, mamãe! – respondeu o menino, iluminado por um raio. – Desde que você saiu do hospital que não se conforma com isto e vive me chamando... não quis vir aqui, mas tinha de vir depois de tantos chamados.
Ela estava paralisada.
- Não quis vir porque te odeio, mamãe! – ele respondeu. – Mas estou aqui, certo? Vim aqui para te pegar! – ele disse, sorrindo. – Vamos brincar de esconde-esconde? Nunca brincamos disso! Enquanto eu me viro na parede e começo a contar até 50 e você vai se esconder e eu vou te achar... para sempre!
Ele encostou o rosto na parede e começou a contar, falando os números bem alto. Ela, aterrorizada, começou a correr. Subiu as escadas, entrou no seu quarto e fechou a porta, passando a chave com afobação.
- Perdoe-me, meu amor! Meu filhinho amado! – ela, ajoelhada na porta do quarto, falava chorando.
- Eu vou te achar, mamãe! – o menino disse, com sua voz bem perto da porta. A maçaneta da porta começou a ser mexida com força. Ela afastou-se da porta, andando de costas.
- TE PEGUEI, MAMÃE! TE PEGUEI!!! – gritou o menino, surgindo atrás da mulher! – Agora estaremos juntos... PARA SEMPRE!!!
O menino estava diferente: seu rosto apresentou-se deteriorado, assim como seu corpo, sendo que suas roupas estavam rasgadas e sujas. Este era sua verdadeira forma agora.
Ela, horrorizada, não viu a janela nas suas costas e caiu, dando um longo grito de agonia.
O menino, olhando pela janela o corpo de sua mãe no chão, comentou:
- Estaremos sempre juntos, mamãe! – disse o menino, com a expressão do rosto, todo deteriorado, indiferente. – Juntos no INFERNO!!!
A chuva continuou junto dos raios e trovões. E a mamãe e seu filho ficaram eternamente juntos... no INFERNO!

[Conto] Flor de Plástico, Flor de Carne

Escrito por Matheus Ferraz
Me olhei no espelho e perguntei a mim mesma: era mesmo isso que eu queria? Não poderia confiar apenas na palavra dele?Não. Definitivamente não. Precisava saber.Olhei para meu rosto uma última vez antes de começar. Todos sempre diziam que eu era muito bonita. Meu cabelo chamava a atenção de todos. Meus olhos eram de um violeta muito raro. Meu rosto era o de uma boneca de porcelana.Chega! Se eu continuar pensando assim, nunca vou ter a coragem.Peguei a máquina de aparar cabelo e passei sobre minha cabeça. Minhas madeixas ruivas começaram a despencar no ladrilho azul do chão do banheiro. A máquina avançava podando minha cabeleira. Continuei até ficar careca.Depois peguei a navalha e cortei minha orelha esquerda. Parei no meio do caminho: a dor era insuportável. Estava chorando. Mas não podia parar. Tinha que ter certeza.Avancei com a navalha serrando cegamente a cartilagem. Gritei. Gritei de novo. Continuei. Finalmente, a orelha saiu. Eu estava berrando àquele momento. Tomei bastante analgésicos. A dor foi se amortecendo, mas não chegou a parar.Cortei pedaços do meu rosto com a navalha. A carne se abria e ardia muito. Quando a dor se tornou insuportável, tomei um comprimido de morfina que havia roubado do hospital. Continuei tirando nacos de carne da minha face. Estanquei o sangramento e fiz alguns pontos.Olhei para meus olhos. Era tudo o que havia me restado de belo. Com a gilete vazei um deles. Pude senti-lo escorrendo, esvaziando minha órbita. Tive de deixar um para enxergar.Pronto. Havia terminado. Havia me tornado um monstro. Agora confirmaria se o que Michael me disse era verdade.Ele me disse que não gostava de mim por atração física. Agora eu teria minha prova.